terça-feira, 11 de março de 2014

De geração em geração


Antes mais, devo informar que a fraca actividade aqui no blog deve-se, em grande parte, à universidade e ao tempo dedicado ao estudo. Todos nós definimos as nossas prioridades e, apesar de ser uma amante da História, a universidade está em primeiro lugar. Ainda estamos no início do semestre mas as coisas acumulam-se e, gradualmente, tende a piorar. 
Mas o assunto que vos trago hoje é muito interessante e recentíssimo.
Hoje à tarde tive uma agradável conversa com a minha mãe. Eu sempre gostei da história da minha família, especialmente das histórias de amor da minha bisavó e avó maternas e, portanto, peço-lhe sempre para mas contar vezes e vezes sem conta. Estas histórias são paralelas a vidas de infortúnio e escolhas difíceis, onde participam cavaleiros andantes e donzelas castas. A mais interessante será a da minha bisavó:
No final do século XIX, no Funchal, a minha avó, Maria Augusta, era uma menina de família rica e desde cedo conheceu uma educação rígida, com poucas permissões e demasiadas exigências. Fora, evidentemente, criada para pertencer a um Senhor de posses e manter a honra da família. Estava, aparentemente, como que prometida a um Senhor de idade avançada, já viúvo, mas o destino mexeu os seus cordéis e a minha bisavó conheceu o meu bisavô, José de Carvalho. Infelizmente, a vida não tinha sido monetariamente generosa com ele e, portanto, não estava à altura de tal menina. Foram apanhados a conversar em segredo e a minha bisavó foi considerada desonrada, tendo sido espancada por comprometer a imagem da família. A minha bisavó que, segundo os relatos da minha mãe, sempre foi uma mulher de força, fez frente ao pai e ergueu-se perante a sociedade, fugindo para casar - literalmente - com o meu bisavô. Evidentemente, foi deserdada, proibida de falar e usar o nome de família. Todos lhe viraram as costas.
Contudo, viveu feliz ao lado do seu marido, embora tenha sido um matrimónio breve. Tiveram um filho, o meu avô, Joaquim Carvalho. Porém, o meu bisavô morreu prematuramente, tinha ainda o meu avô 6 meses de idade. Ele era um carregador de rede - a rede era um transporte para doentes ou incapacitados, sendo carregada sobre os ombros - e, num dia menos auspicioso, carregou uma pessoa mais forte, escorregou e, para que a senhora não se aleijasse, aparou-a tendo partido uma costela que lhe perfurou o pulmão. A minha bisavó viu-se sem o seu amor, com uma renda para pagar e com um filho para criar. Trabalhou de sol a sol nas águas frias das ribeiras a lavar roupa de gente abastada - profissão que lhe causaria a dolorosa doença de Reumático.

Viveu, contudo, até aos 87 anos (1897 - 1984) rodeada de uma família (a minha) que a adorava e que a acompanhou até ao fim.
Já a da minha avó é a típica história romântica dos anos 20, da longa corte - neste caso, 3 anos - e do cavalheiro que foi meu avô a proteger a sua amada, orfã de pai e de mãe, da sua tia maléfica e do seu tio desequilibrado. Acabaram por casar, a minha avó já grávida de meu tio, Zeca Carvalho, que nasceu em 1946. Em 1962 nasce a minha mãe, Cármina Carvalho. Apenas a morte os separou, em '79, com a morte do meu avô. 

Todas estas estórias deram aso à minha busca pelas datas e nomes perdidos no tempo, pelas circunstâncias da vida. Utilizei o arquivo de dados do Arquivo Regional da Madeira e, de geração em geração, eu e a minha mãe fomos buscar as tais datas que o tempo apagou. A minha mãe ficou/está nostálgica e eu muito mais curiosa e sensibilizada com um passado que eu própria quero construir - todos nós queremos que os nossos netos e bisnetos procurem por nós e completem o puzzle da família. Com esta busca pude ver as fotografias dos meus antepassados que tanto admiro, os documentos que em tempos lhes pertenceram, ouvir estórias curiosas e participar do passado que foi presente. 
A vitória principal desta busca ainda em curso foi a de conseguir mostrar à minha mãe o valor do passado e aquilo que nos lega. Não me refiro às coisas materiais mas ao valor emotivo e à transformação da vida. 
É uma atividade que vos recomendo e, se puderem, façam-na em família. Nada melhor que proporcionarmos emoções com aquilo que sabemos fazer, não é? E, para mais, com isto sentem-se mais próximos das vossas raízes e isso é muito importante - se não fossem eles, não estaríamos aqui para fazer história. 

3 comentários:

  1. Uma pessoa a tentar fugir do arquivo e tu voluntarias-te a ir. xD

    Mas gostei do post do blog. É bastante interessante procurarmos as nossas raízes. Quem sabe um dia não ganho tempo para fazer o mesmo.

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  2. Adorei conhecer-vos um pouco mais!! Saber quais as raízes da minha nova família!!
    Qualquer dia, faço essa busca! Mas recorro a ti para me ajudares! :)

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  3. É de facto uma história extraordinária! Também gostava de conhecer melhor as minhas raízes

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