sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Livro: Eu, Cláudio - Robert Graves


"Desprezado pela sua fraqueza e visto pela família como pouco mais do que um tolo gago, o nobre Cláudio sobrevive furtivamente às intrigas, às purgas sanguinárias e à escalada de crueldade que caracterizam as dinastias imperiais romanas. Em Eu, Cláudio, ele fica a observar dos bastidores para poder registar o reinado dos seus imperadores: do sábio Augusto e sua vilã mulher, Lívia, ao sádico Tibério e ao excessivo e louco Calígula.
Um dos romances históricos mais aclamados e envolventes alguma vez escritos, Eu, Cláudio é um clássico dos nossos dias."

Hoje, em vez de vos trazer o habitual, trago-vos uma sugestão literária. Aliado ao meu interesse e à minha paixão pela História, está a minha paixão pela leitura. Tento ler, pelo menos, dois livros por mês. Contudo, durante o ano letivo acabo por ler apenas um, devido ao pouco tempo que me resta depois do estudo. É apenas nas férias de verão que consigo ler o número de livros que quero e prestar-lhes maior atenção.
As minhas preferências recaem em romances históricos ou mesmo em livros de História com intuitos académicos. Não aprecio, de forma alguma, romances previsíveis e comuns como a obra de Nicholas Sparks, Norah Roberts e outros do mesmo género (e, sim, para dizer que não os aprecio, já li pelo menos um ou dois). Portanto, até há um ano ou dois, os meus gostos literários não eram muito amplos. Mas, lá na Universidade, principalmente a partir do segundo semestre do primeiro ano, conforme o programa e as leituras obrigatórias de cada cadeira, vou descobrindo géneros literários e autores que começo a gostar. Foi o caso de Milan Kundera, este ano.
Este livro que vos falo hoje foi também ele descoberto (ou mais desejado) durante a minha frequência na cadeira de Civilizações Clássicas do meu curso. Existia (e ainda existe) nessa cadeira um módulo dedicado apenas aos Imperadores Romanos das primeiras décadas do Império Romano. Falamos desde Augusto até Nero. As aulas foram divertidíssimas, pois líamos crónicas de Suetónio e Tito Lívio, livros e/ou enciclopédias com relatos e descrições das loucuras e extravagâncias de cada imperador - tentando, sempre que possível,  descobrir que versão dos factos era a mais correta ou porquê que diferiam umas das outras.
Nessa altura, já eu conhecia o livro e, depois de ler o resumo, entrou para a minha wishlist. Quando, nas aulas, chegamos até Cláudio, corri para a livraria comprá-lo porque me "apaixonei" realmente por Cláudio, 4º imperador romano. Não só por tudo o que sofreu durante os anos precedentes ao seu mandato, mas pela forma como imperou e estabilizou o império numa altura em que este se orientava para um abismo. Nada indicava que seria imperador (por causa das suas deficiências físicas e por ser renegado e humilhado desde criança, devido a isso), mas acabou por desempenhar um papel muito mais feliz que os seus antecessores, nomeadamente Tibério e Calígula e alguns dos seus sucessores.
O livro, nem por sombras me deixou desapontada. Apesar do título, que nos faz acreditar que o conteúdo gira sempre à volta do imperador, temos um relato na primeira pessoa acerca de todos os personagens que estiveram à sua roda desde a infância até à sua subida ao trono.
O formato assemelha-se a um diário pessoal ou uma autobiografia. A escrita é maravilhosa, fluída, fazendo-nos realmente acreditar que estamos a ouvir a voz de Cláudio. Todos os capítulos estão repletos de belas descrições das artimanhas de todos os vilões que o imperador conheceu e, até mesmo, os que já lá não se encontravam, da extravagância, dos adultérios, dos assassinatos, dos espaços romanos - são tão boas que chegamos a nos sentir parte desse mundo remoto; pormenorizadas explicações dos acontecimentos; humor negro e mordaz; não menos importante são os vestígios da inteligência que Cláudio verdadeiramente possuía. Todas as maldades e crueldades contra si e contra os outros são severamente denunciadas e punidas, sem uma grama de piedade. No fundo, é uma cópia brilhante daquilo que ia na mente do Imperador Cláudio e que sempre foi forçado a permanecer lá enclausurado. No final, temos um grande livro que, apesar das suas 422 páginas, sabe muito a pouco.
Sempre recolhido na sua solidão e vítima de humilhações por parte de todos, Cláudio viu, ouviu e leu o lado negro da brilhante casa imperial romana.

2 comentários:

  1. Vou dar uma espreitadela...

    Não tive o módulo de imperadores por isso não sei muito sobre a história. Mas se gostaste do livro e achaste que é coerente com as informações de documentos oficiais então vou ver se o requisito.

    Isto sim foi uma opinião bem formada.

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  2. Também adorei a cadeira de clássicas, mas infelizmente não tive o modulo dos imperadores. Adoro todo o que tem haver com civilizações antigas. Por isso, obrigada pela sugestão. E também deixo aqui um livro que de certeza vais adorar: Memórias de Agripina!

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